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O tipo de pais clássicos que costumavam chegar a casa e não davam nenhuma atenção aos filhos, caiu completamente em desuso. Hoje os pais já não são considerados figuras distantes, e participam cada vez mais activamente na vida dos filhos.

As próprias mulheres "exigem" uma cada vez maior envolvência nossa na vida familiar, porque também percebem que nós gostamos de ocupar esse espaço. Portanto ambos desejamos a mesma coisa - homens e mulheres.

Hoje as crianças também percebem melhor a importância que o pai tem para elas, e nós temos é que saber dar valor a isso e corresponder cada vez mais a essa exigência. Já não somos vistos como um super-herói inatingível, mas sim como alguém capaz de participar na rotina doméstica, e nos cuidados que elas necessitam no "dia-a-dia".

É verdade que ainda há por ai muitos pais que não conseguem facilmente assumir esse papel, mesmo estando insatisfeitos com isso, portanto cabe às mulheres terem a arte e o engenho de saberem ajudar a modificar essa realidade.

Tenho uma enorme lacuna... Eu não gosto de poesia, não sou um apreciador fácil de poesia. Gosto de algumas coisas, gosto daquelas que me tocam, e que leio ao acaso. São umas coisas [daqui], outras [dali], e não tem a ver com estilos. É que o meu sentido artístico no que diz respeito à poesia não é nada apurado... é um problema...

Mas de vez em quando encontro poemas e autores que se entranham em mim, e ficam para sempre... e ocasionalmente transpiram para fora...
Basicamente, sei o que me toca e o que não me toca...


Eu vou estar sempre aqui.
E tu sabes onde,
sabes onde me encontrar.
Eu não fugi, eu permaneço.

Deixo adormecer-me sem ti,
porque tenho que dormir.
Fico onde estou, porque
sei que virás um dia.

Não quero que me percas de novo.
Por isso fico. E espero.
Calmamente.
Como se fosse inevitável,
cruzarmo-nos de novo.

E vou ser tua, vou possuir-te.
vou poder amar-te, só mais uma vez.
Relembrar, recomeçar, reviver.
E ficarmos os dois, assim,
como um só, numa nuvem
que se evapora e, não volta.

Ventania de Sílabas - Setembro de 2008


Paula Raposo tem editados dois excelentes livros de poesia: "Canela e Erva Doce" e "Golpe de Asa".
Eu sigo atentamente tudo o que ela publica nos seus diversos blogues há pelo menos uns três anos. Se puderem "espreitem" os seus espaços, porque como a Paula Raposo diz, por lá vão encontrar "um turbilhão de sentimentos... uma tempestade..."


Desenho de António F. Santos

Regressar a um local onde fomos felizes, é como recuar no tempo... é como voltar a um sítio de onde nunca saímos, e àquela pessoa que sempre fomos, mas que por vezes deixamos estar esquecida dentro de nós, num qualquer tempo.

Quando voltamos a um local assim, muitas vezes acabamos por o fazer por caminhos sempre mais curtos, e por nos sentir a percorrer as ruas em sentido inverso, reconhecendo a paisagem que nos completa, e independentemente de ser para norte ou para sul, acabamos por atingir o local de partida. Às vezes regressar é como estudar o tempo, e fazê-lo preservar no nosso interior, para o apreciar e reviver.

Viajamos pelo que já fomos, e voltamos ao que somos de momento, sem que para isso seja necessário sair do sítio, porque viajar é regressar no tempo, é como um recurso inevitável da nossa memória, devido à necessidade de busca, e de nos sentirmos vivos.

Sempre ouvi dizer que sobreviver é talvez a maior vitória de cada um de nós enquanto seres humanos. Isto porque na verdade na nossa vida há fases em que se tem que fazer diversas escolhas entre muitas possibilidades.

Escolhas essas que depois têm uma enorme influência naquilo em que nós acabamos por nos tornar. Muitas dessas escolhas são feitas conscientemente, mas o que torna essas fases mais difíceis, é o facto de também termos a noção que há escolhas que foram meros acasos... fruto da sorte... e das companhias que tínhamos nessa fase, porque os bons e verdadeiros amigos nem sempre são fáceis de se encontrar.

Dificilmente se tomam decisões que sejam fruto dos conselhos dos outros, porque se costuma achar que se sabe tudo muito melhor do que os outros. Para se sobreviver é preciso ser-se capaz de superar as inseguranças, os preconceitos, os traumas (sejam eles grandes ou pequenos), mas acima de tudo é preciso saber superar o medo de sermos nós mesmos. Na verdade raramente se seguem as opiniões, porque gostamos de ser nós a traçar o nosso próprio rumo.

Confesso que eu me sinto satisfeito, por até hoje ter sabido trilhar o rumo certo para mim. Eu sei que não tem sido o rumo perfeito, mas tem sido o meu rumo... Maravilhosamente imperfeito... Mas o importante é sabermos ser nós mesmos, e atrevermo-nos a ser rebeldes...

Diante de mim há muitos caminhos, e a única solução que eu tenho é caminhar por eles, porque ao fazê-lo estou a caminhar pela vida. Sonho, rio, choro, amo, sofro, magoo-me, tropeço, caio... mas levanto-me sempre.

Nesse percurso que é a vida, posso ferir-me em espinhos, e sangrar, mas continuarei sempre a correr, mesmo que me canse, e não pararei nunca. Continuarei a caminhar, mesmo que seja mais devagar, mesmo que seja em silêncio.

Curarei as feridas que a vida me for fazendo durante o percurso, mas não me perderei na vida... nem com os espinhos... nem com os carinhos. Carregarei nesta caminhada as minhas mágoas, mas ao mesmo tempo também toda a minha esperança.

Para mim existir é vaguear, andar pelas ruas observando, e olhando curiosamente cada olhar, cada sorriso, cada gesto. Gosto de vaguear pelas ruas e pensar sobre o bem, e sobre o mal... sobre o perverso, e sobre o pudico. Gosto de fugir de mim, e fechar-me no irreal, na utopia, e na ilusão.

Gosto de existir no corpo, de desistir da alma, e de correr com tudo... com ideias, com tabus, com sonhos, com ilusões... correr comigo próprio, e partir para algo abstracto, indefinido... procurando o infinito...

Às vezes fico a pensar que sou apenas alguém que gosta de complicar certas coisas simples. Alguém que gosta de contrariar tudo o que é amargo para o tornar doce. Ou apenas alguém... no fundo... uma pessoa normal!!! Será que sou??? Mas afinal que interessa tudo isto???

Naquele tempo eu sentia-me sufocado...
As tuas surpresas... os teus telefonemas... a tua presença constante...
Os nossos sorrisos... os nossos suspiros... os nossos olhares cúmplices...
Não resisti...
Conseguiste-me fazer esquecer de tudo...
Como me tornei frágil...
Perdemo-nos um com o outro...
Tantas portas... tantos caminhos... tantas estradas... tantas janelas...
E não conseguimos encontrar uma saída!!!

A nossa amizade hoje angustia-me.
Fugi do teu olhar, antes que me afogasse.

Fui então acusado de cobardia, e nunca fui compreendido.
Fui acusado de não ter lutado... e tu... será que tu não deverias ter lutado também?
Fui acusado de não ter esperança, e nisso talvez tenham razão, porque apaguei todas as luzes logo após te ter negado a possibilidade de entrada na minha vida.

Os meus pés decidiram parar antes que me perdesse de vez.
Desde esse dia tentei arranjar novos sonhos... compartilhar novos planos...
Saí pela porta dos fundos quando não havia ninguém a olhar.
Vagueei falsamente distraído, à procura de ouvir os sons do silêncio e nada mais.

Apaguei os teus sorrisos da minha memória.
Rasguei-me ao meio e deitei metade fora.

Poderemos nós com a entrada de um novo ano aspirar a uma vida nova?

Eu penso que não, mas na verdade criamos expectativas, esperanças, e sonhos, com a chegada de um novo ano. Planeamos mudanças, imaginamo-nos a viver situações novas e diferentes, sonhamos com tudo aquilo que ainda não conseguimos realizar, mas no entanto quando chegamos ao final de cada ano, apercebemo-nos que quase nada do que sonhamos no início do ano se concretizou, e acabamos por nos sentir frustrados.

No início de cada ano ficamos sempre na expectativa de mudanças, e parece que não percebemos que para termos uma vida nova, não precisamos da chegada de mais um ano, porque as mudanças podem e devem acontecer a qualquer momento, porque não é um novo ano que faz as mudanças acontecerem, mas sim o nosso interior, a nossa forma de pensar, a nossa determinação, e força de vontade. É no nosso interior que podemos transformar as nossas vidas, e entender que não é a vida que é cheia de mudanças, mas sim nós mesmos.