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Tenho a certeza que há remédios para o amor. Tenho é dúvidas se não haverá amores sem remédio... Eu conheço pelo menos três remédios para o amor, sendo o mais eficaz deles todos a ausência, mas o tempo, e a ingratidão também podem ajudar a melhorar da "doença".

A ausência, e o tempo curam tudo, fazem esquecer tudo, gastam tudo, digerem tudo, acabam com a novidade, mostram-nos os defeitos, e por isso tudo fazem acabar, porque "tudo que é bom dura pouco".

Depois subitamente aquilo que era cegueira transforma-se em dor, e o que era amor, transforma-se em lágrimas, e em arrependimento. São estes os poderes que a ausência, o tempo, e a ingratidão têm sobre o amor, porque nós somos fracos, inconstantes, seguimos menos a razão do que o coração... somos imperfeitos.

“O meu amor é tão forte, que o devias sentir. Tinhas a obrigação…”
“Quem te disse que não sinto?”
“Pois, mas se sentes e nada fazes…”
“Tenho medo!”
“Medo?!? Medo do quê???”
“Medo.”
“É normal, mas a vida é mesmo assim, e é preciso vivê-la, não?!?...”
“Pois. Mas não sei que fazer.”
“Achas que estás melhor assim, que estamos melhores assim?”
“Não sei. Já não sei muito…”

Conhecemos o ABC dos tempos mas muito pouco do Z, e talvez por isso estamos sempre em constante mutação. Começamos, construímos, falhamos, recomeçamos, e lutamos... são fases da vida, porque a vida é feita de ciclos...

Faz parte da construção do ser humano... e isso é bom... ganhamos experiência e maturidade.

Tudo tem um princípio e um fim. Tudo começa e acaba. Após um objectivo alcançado procuramos outro, porque o ser humano está sempre em constante evolução, e é um eterno insatisfeito. Lutamos sempre por um início, sabendo que tudo tem um fim, só não sabemos é quando, porque não conhecemos o Z...

Mostrarmo-nos aos outros como somos, sem jogos, e despindo todas as máscaras, implica sempre a verdade, que muitas vezes é um destruir de todas as nossas barreiras e protecções que construímos para nos proteger.

Isso seria abandonar definitivamente a cara vazia que nos habituamos a mostrar em sociedade, e para isso é necessária muita coragem, porque nos sujeitamos a uma exposição sem limites, e a nossa sociedade educou-nos para todos sermos actores em algumas situações da nossa vida. Crescemos a mostrarmo-nos como pensamos que os outros querem que nós sejamos... quem de nós ainda não viveu uma situação assim? Mas aquilo que eu questiono muitas vezes nem é tanto se os outros nos conhecem, mas mais se nós nos conhecemos a nós mesmos...

Penso que nunca nos conhecemos, nem deixamos que os outros verdadeiramente nos conheçam. Estamos sempre a usar máscaras umas sobre as outras, e às vezes deixamos cair algumas delas, ou porque nos encontramos mais fragilizados, ou porque as situações nos levam a isso.

Por isso é muito difícil conhecer profundamente alguém, porque à medida que vamos conhecendo melhor uma pessoa, acabamos sempre por ser surpreendidos por algo que desconhecíamos... por algo que nos escapara até aí. Umas vezes surpreendemo-nos pela positiva, e outras pela negativa, e assim estamos continuamente à descoberta. A descoberta é sempre fascinante, embora muitas vezes se corra o risco de ao tentar interpretar aquilo que descobrimos, acabarmos por o percepcionar de forma diferente, e os outros em relação a nós também caem nesse erro muitas vezes.

Eu diria que é muito difícil tornarmo-nos completamente transparentes, e quanto mais adultos nos tornamos, mais máscaras usamos, por isso tenho saudades da minha idade de inocência, em que podia ser genuíno, sem que me avaliassem, ou catalogassem. Só nessa fase da vida é que podemos ser nós próprios em todas as situações, só enquanto somos crianças é que os outros nos mostram a sua verdadeira essência, e por isso só por essa altura é que nós podemos ter a certeza de quem temos à nossa frente.

Depois... à medida que vamos crescendo... a vida vai-nos dando motivos, e mais motivos, que nos vão obrigando a camuflar... a usar cada vez mais máscaras, e cada vez mais sofisticadas.

Dizem que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes. Eu acho que há lugares onde devemos voltar sempre... sempre... felizes, ou infelizes... com energia ou cansados... com sorrisos ou com lágrimas... sozinhos ou acompanhados...

Há lugares onde se deve voltar sempre. E mesmo quando se parte, devemos levá-los sempre connosco, porque ao contrário do que diz o ditado, eu acredito que o que é perfeito dura para sempre... nem que seja só e apenas na nossa memória.