Cresci ao som destas palavras na voz de Vítor de Sousa, e é curioso como há coisas que ouvimos na adolescência que nos marcam e acompanham para o resto da nossa vida, e que mesmo com o passar dos anos nos continuem a parecer tão actuais, e a fazerem tanto sentido...
Sabes meu filho, até hoje não tive tempo para brincar contigo. Arranjei tempo para tudo, menos para te ver crescer. Nunca joguei contigo dominó, damas, xadrez, ou batalha naval. Eu percebo que tu me procuras, mas sabes meu filho, eu sou muito importante e não tenho tempo...
Sou importante para números, convites-sociais, e toda uma série de compromissos inadiáveis... Como largar tudo isto para ir brincar contigo? Não, não tenho tempo!!!
Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver, e ficaste ao meu lado, lembras-te?
Não te dei atenção, e continuei a ler o jornal. Porque afinal, afinal os problemas internacionais são mais sérios do que os da minha casa. Nunca vi os teus livros, e não conheço a tua professora, nem me lembro qual foi a tua primeira palavra. Mas tu sabes... eu não tenho tempo...
De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito se eu tenho outras grandes coisas a saber? Incrível, como tu cresceste, estás tão alto, nem tinha reparado nisso!!!
Aliás, eu quase não reparo em nada, e na vida agitada, quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora, porque aqui fico calado diante da televisão. Porquê? Porque a televisão é importante e informa-me muito...
Sabes, meu filho... a última vez que tive tempo para ti, foi numa noite de amor com a tua mãe. Eu sei que tu te queixas, eu sei que tu sentes a falta de uma palavra, de uma pergunta amiga, de uma brincadeira, de um chuto na tua bola... Mas eu não tenho tempo...
Eu sei que sentes a falta de um abraço, de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque ao fundo da rua comprar um jornal, uma revista. Mas sabes, há quanto tempo eu não ando a pé na rua? Não tenho tempo...
Mas tu não entendes, eu sou um homem importante, tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas... Meu filho, tu não entendes nada de comércio... Na realidade, eu sou um homem sem tempo.
Eu sei que tu ficas triste, porque das poucas vezes que falamos é um monólogo, só eu é que falo. Eu quero silêncio, quero sossego!!! E tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente, tens a mania de saltar para os braços dos outros... Filho, eu não tenho tempo para te abraçar, não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.
Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética, racionalismo? Tu sabes quem é Decart, e Kant? Como é que eu vou parar para falar contigo? Sabes filho, não tenho tempo...
Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já, neste instante, eu ficava com um peso na consciência, porque até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo, e na outra vida, Deus não terá tempo de me deixar, pelo menos, ver!!!
Sou importante para números, convites-sociais, e toda uma série de compromissos inadiáveis... Como largar tudo isto para ir brincar contigo? Não, não tenho tempo!!!
Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver, e ficaste ao meu lado, lembras-te?
Não te dei atenção, e continuei a ler o jornal. Porque afinal, afinal os problemas internacionais são mais sérios do que os da minha casa. Nunca vi os teus livros, e não conheço a tua professora, nem me lembro qual foi a tua primeira palavra. Mas tu sabes... eu não tenho tempo...
De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito se eu tenho outras grandes coisas a saber? Incrível, como tu cresceste, estás tão alto, nem tinha reparado nisso!!!
Aliás, eu quase não reparo em nada, e na vida agitada, quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora, porque aqui fico calado diante da televisão. Porquê? Porque a televisão é importante e informa-me muito...
Sabes, meu filho... a última vez que tive tempo para ti, foi numa noite de amor com a tua mãe. Eu sei que tu te queixas, eu sei que tu sentes a falta de uma palavra, de uma pergunta amiga, de uma brincadeira, de um chuto na tua bola... Mas eu não tenho tempo...
Eu sei que sentes a falta de um abraço, de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque ao fundo da rua comprar um jornal, uma revista. Mas sabes, há quanto tempo eu não ando a pé na rua? Não tenho tempo...
Mas tu não entendes, eu sou um homem importante, tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas... Meu filho, tu não entendes nada de comércio... Na realidade, eu sou um homem sem tempo.
Eu sei que tu ficas triste, porque das poucas vezes que falamos é um monólogo, só eu é que falo. Eu quero silêncio, quero sossego!!! E tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente, tens a mania de saltar para os braços dos outros... Filho, eu não tenho tempo para te abraçar, não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.
Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética, racionalismo? Tu sabes quem é Decart, e Kant? Como é que eu vou parar para falar contigo? Sabes filho, não tenho tempo...
Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já, neste instante, eu ficava com um peso na consciência, porque até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo, e na outra vida, Deus não terá tempo de me deixar, pelo menos, ver!!!
Divagando sobre: filhas, Se Eu Blogo
15 Comments:
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Há muito que não vinha aqui porque sabes? Eu não tenho tempo!
:))
beijinhus
Esse poema é lindíssimo.
Dos meus favoritos.
é claramente triste, mas na sua tristeza tem uma mensagem positiva, o aviso para não causarmos os mesmos erros que o declamador.
O Vítor de Sousa tem uma voz excepcional. As suas declamações são excelentes.
Devias ter colocado o vídeo no blog. Era excelente.
Abraços.
CESAR
diz-me que este texto não significa que n tens tempo para as tuas meninas... podemos ser às vezes egoístas e fazer algumas coisas menos importantes, dar-lhes pouca atenção... ou até por vezes deixa-las a "brincar" sozinhas!...
mas não é um habito, pois não?
E se sentes mesmo que não tens tempo para elas... espero que este texto não seja apenas um pedido de desculpa mas um recado que vais ter tempo ...
Não te esqueças nunca que ainda mais importante que a quantidade de tempo é a qualidade passado com eles...
jokas
Elsa
E não é somente nas relações entre pais e filhos que a falta de tempo existe. Também entre amigos. É é uma pena pois deixa-se de usufruir da companhia de algumas pessoas incríveis, cuja aproximação e contato muito nos enriqueceriam.
Um abraço Art.
beijo no coração e obrigado pelo carinho.
Um beijo.
Há sol dentro de mim
Respiro todas as cores
Há Verão, há flores
Como é bom sentirmo-nos assim!
E é bom voltar a este espaço.
Aparece!
Um grande beijinho e até breve.
;O)
Eu pessoalmente não lido mto bem com a falta de tempo...para mim, se quisermos mesmo arranjamos sempre um tempinho...não precisa ser muito, basta que seja bom ...
***
Pouco mais há a comentar está tudo explanado
Nessas palavras.
Penso muito sobre as nossas crianças que quase todas
Passam põe esse problema, hoje é mais fácil comprar
brinquedos, jogos de pc e mandar as crianças
para o quarto para não incomodar, que homens teremos
no futuro, egocêntricos, sem saberem partilhar, egoístas,
e quantos com problemas de auto afirmação,
desequilíbrio mental, pois faltou o amor saído em actos,
como um olhar de apreço, um abraço forte
beijinhos
Os pais ,não têm tempo para os filhos!
Mais tarde ,são os filhos que não têm tempo para os pais!
O que plantarmos hoje ,colhemos amanhã!
É triste mas é cada vez mais a verdade!
Bjs
Um abraço!
Maria
Fiquei espantada e por curiosidade resolvi ficar... ler... ver e pensar um pouco, associando este texto á situação que hoje o nosso país atravessa.
25/08/2008...!
Quase três anos se passaram desde o dia em que publicaste este texto, e como em tudo neste País, a situação piorou.
A vida piorou, as desculpas para a falta de tempo aumentaram, a paciência diminuiu, os interesses mudaram, e a companhia dos filhos,
da maioria talvez, são hoje as novas tecnologias. Trocou-se a companhia pelo telemóvel, pelo computador, acentua-se a distância entre pais e filhos...!
Como será daqui a alguns anos a velhice dos pais que, agora não tiveram tempo de desperdiçar uma hora numa conversa, ou de correr atrás duma bola feitos tontos com os seus rebentos?
Não antevejo felicidade na velhice dos pais importantes.
Embora... a esse respeito hajam feridas dentro de todos nós.
Desculpa esta invasão...